Por
se usar texto fora de contexto, posso dizer a tal “Peste perniciosa” do qual
Davi falou está aí. Acredito que nem mesmo durante o período “negro” do
cristianismo que foi a idade média, onde se vendia pedaços da suposta cruz de
cristo, terrenos no céu, trapo das vestes de Pedro, levantando fortunas em nome
da fé, conseguimos chegar numa sociedade tão “pesqueira”... O termo pesqueira
(adaptado para essa situação) explico já, já. Digo isso em tom de revolta
porque, antigamente, o acesso ao livro sagrado era extremamente restrito às
mais altas autoridades eclesiásticas, lido de costas para o povo e em latim...
Não havia outra opção para os infelizes irmãos naquela ocasião, uma vez que era
completamente inacessível o livro santo a estes. Sinceramente, ainda que o
tivesse, não resolveria muita coisa, pois além da escrita em latim (língua morta),
saber ler era apenas uma propriedade da nobreza. Bom, graças a Deus esse não é
o problema da atualidade. Após séculos de obscuridade fomos libertos, na reforma,
das amarras da ignorância, deixamos de ser salvos pela igreja e passamos a
exercer o tal “sacerdócio universal” do qual Lutero falou entusiasticamente e
ainda somos salvos pela “graça”... Isso
é uma explosão revolucionária da fé, para o tempo da reforma. Minha tristeza,
entretanto está nos dias atuais. Às vezes me pego pensando, pensando “Meu Deus,
como podem as pessoas se permitirem ser ludibriadas pela mais “pesqueira”
leitura das escrituras”?!. Quando você quer fisgar um peixe, o que você faz?
Vai em uma terra barrosa, pega a minhoca (isca) a prende sobre a ponta do anzol
e vai a pesca. Lança sua vara e, uma hora ou outra, algum peixe será fisgado.
Bom, nosso termo “pesqueiro” se refere à essa situação no contexto da igreja
atual... No entanto, a isca aqui é a própria bíblia, ou melhor, textos,
sortidos e escolhidos aleatoriamente, sem conexão com seus contextos pra se
formular uma ideia, uma doutrina ou uma pregação que abarca o interesse daquele
que a manipula. Pois bem, levado isso ás últimas consequências, temos o que
chamamos de TEOLOGIA DA PROSPERIDADE, que nada mais é do que a pregação de que
o cristão autêntico necessariamente precisa demonstrar isso através de uma vida
abastada, abundantemente próspera, em todos os sentidos... Uma vez que o nosso
Deus é bom, o mal não pode chegar perto dos tais “filhos de deus” . Todos os
desdobramentos dessa visão simplista da vida fazem parte dessa pregação: Se você
é alguém que vive com enfermidades, é porque está em pecado, se é pobre é
porque pratica algo que não agrada a Deus; se seus negócios não vão bem é
porque você é avarento com deus, enfim, a ênfase da pregação é: Sirva a Deus e
sua vida será mudada; seus negócios prosperarão; sua família terá saúde; e você
será protegido de TODA A SORTE DE MALES. Claro que, como tudo o que você quer
ganhar nessa vida tem um preço, precisa sempre dar algo em troca ao
criador... Esse votinho pode ser a chave
da sua casa, do seu carro, cheque pré-datado, que você nem sabe se vai ter
fundo pra pagar, seu cartão de crédito, seu dízimo, sua oferta de amor, sua
oferta do impossível, seu tudo... “Você não
precisa se preocupar com o futuro, pois está depositando isso nas mãos de deus,
cara! Ora, plantar uma oferta na casa deus, só pode que o investidor (esse é o
termo) será abençoado inúmeras vezes a mais por isso, afinal a oferta está
sendo dada para deus, que é o dono do ouro e da prata!”... no começo achei que
pararia por aí, mas vi que se pode dar um passo além... Um dia desses eu
conversei com um amigo que estava tentando reconquistar a ex-esposa e trouxe
uma “maça do amor” que ele ganhou numa igreja dessas aí e, segundo o que ele
disse, havia levado para a ex dar uma
mordida na maçã que foi ungida, pela oração do profeta... Sinceramente eu já
estava com dúvida se esse sujeito tinha ido mesmo à igreja ou em um... Pois
bem. Numa altura dessas a gente já fica
enjoado dessa nojeira que se faz em nome de Deus, até eu ouvir o que me causou
uma tremenda revolta: Certo dia, um desses pastores infeliz, treinados para
tirar dinheiro dos outros e não para apascentar ovelhas, foi ministrar o CULTO
DAS 15 HORAS (quem lê entenda). Tinha um punhadinho de gente e, na hora de
tirar a oferta, depois de todos os esforços possíveis; da melhor oferta; da
oferta da fé; da oferta da viúva; do tudo etc, etc, ele, faz o último apelo:
“Eu vinha descendo para a igreja quando vi uma movimentação grande na rua.
Parei e vi que um jovem tinha sido morto com um tiro na cabeça e pensei:” Meu
Deus, quantas mães que não tem proteção contra essas coisas.” Então irmão, se
você quer ter essa proteção venha aqui na frente e traga uma oferta ao
senhor”.
Isso
é um crime! Isso é uma blasfêmia! Você já pensou em como fica o coração de uma
mãe, que não tem uma moeda pra dar ao ouvir isso e, por um acaso perde o filho
com um tiro na cabeça?! Já pensou no transtorno psicológico que esse infeliz
digno do fogo do inferno causaria numa mãe dessas? Apelar para o amor de uma
mãe para ganhar dinheiro, em nome de Deus...
Essa
ideologia está se alastrando como uma praga. Está dia após dia arrebatando mais
e mais pessoas para um deus utilitário. Igreja viraram supermercados da fé:
Você pode escolher o que quer que Deus
faça por você. Dê uma oferta e tudo será resolvido! Isso é muito bom,
oras... Pra que me relacionar com um ser superior quando que me exige
abnegação, se eu posso ter os holofotes da vida sobre mim? Pra que uma cruz se
posso ter um trono de glória? Pra que suportar uns aos outros se posso
inclusive assistir culto online com minha família em minha casa e a comunidade
da fé que se dane?! Aliás, já até podemos substituir a igreja pela comunidade
virtual gospel! O Jesus evangelista do
nosso tempo deveria necessariamente portar um laptop pra realizar curas e fazer
pregações por videoconferências.
Poderíamos receber scrap de Jesus dizendo, “sê curado”, ou ainda, “se
quiser vir após mim, responda a esse e-mail dizendo, SIM! Claro, nessas
mensagens deveria ter a famosa barra – Se não quiser mais receber e-mails de
Jesus, clique Aqui-
Tenho
muitas queixa a fazer sobre essa doutrina de demônios, mas vou me ater a essas
breves linhas, pois são a breves reflexões que este blog se propõe. Não faço
aqui, apologia à pobreza. Se Deus lhe deu posses, honre a ele com isso! Mas
isso não demonstra que você é mais ou menos fiel do que aquele irmão que
depende de sua ajuda com uma cesta básica. Deus te deu para que tenha um
coração que se alegra em compartilhar. Minha queixa maior é contra esse bando
de sem-vergonhas que colocam qualquer fariseu no bolso e que estão plantando
joio na lavoura de Deus, se usando dos mesmos princípios de uma hermenêutica
fajuta que outras ramificações do cristianismo fazem da bíblia, aliada ao
sincretismo religioso para construir uma nova vertente cristã disfarçada de
igreja. Um dos maiores representantes desse movimento que é a IURD, inclusive
já deixou de ser categorizada como igreja e passou a ser categorizada como uma
religião.
Pequenas Igrejas, Grandes Negócios!
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