terça-feira, 29 de março de 2016

A mulher segundo a Bíblia. Uma reinterpretação para o nosso tempo!

O assunto, embora polêmico, é de fato muito relevante para o contexto social presente, não só da Igreja, mas também do mundo. Acredito eu que a Igreja precisa discutir mais aprofundadamente assuntos do tipo, pois se queremos transformar o mundo com a renovação do nosso entendimento, precisamos nos interessar em discutir assuntos que são ontológicos para o mundo, que responde aos anseios e indagações também de nossa vida terrena, e mundo aqui entendido num contexto geral de humanidade e não em uma dicotomia secular/sagrado.
Para fazermos uma releitura bíblica sobre a figura da mulher, é preciso analisar o contexto em que a Bíblia fora escrita, qual a visão sobre a mulher na época, partindo do pressuposto que a bíblia não é um produto de todo atemporal ou acontextual, visto que durante toda sua escrita houve influência da cultura em que ela foi inserida.
Sabemos que a antiguidade em peso (podem ter havido exceções)  foi construída sob um regime patriarcalista, ou seja a figura do homem muito mais valorizada que a da mulher, a mulher sobre tutela e comando do homem, o homem com muito mais direitos civis que a mulher, o homem com mais liberdade moral, o homem como os únicos que podiam assumir cargos de autoridade, o homem tendo o direito de uso e de abuso sobre a mulher, e isso autorizado por lei, o homem com poderio econômico sempre maior e dominante em relação a mulher, e por fim o homem sempre tido como superior em todos os aspectos. Usar o termo machista para essa sociedade seria um anacronismo, uma vez que este é um termo moderno e na época nem existia. Mas sem dúvidas seria uma sociedade que valorizava muito, muito mais a figura do homem que a da mulher.
A Bíblia sagrada foi escrita nesse contexto, e de certa forma, foi uma contribuinte para a formação desse tipo de sociedade. O problema é que muito dos homens faziam leituras distorcidas do livro da lei no que se referia a mulher, como por exemplo, alguns tinham a mulher como mero objeto mesmo, como algo a ser usado apenas, e a comparava com cabeças de gado, como é o caso de um teólogo chamado Hilleu, ele afirmava que o homem poderia se divorciar de sua esposa a qualquer momento sem nem dar explicações, até pelo simples fato de ele não ama-la mais, ou de ela ter queimado a comida seria uma justificativa para o divórcio. E essa leitura era feita baseada em DT 24;1 e em EX 20;17, que sugeria que a mulher do próximo deveria ser vista como um boi.
A mulher na época da bíblia, sofria uma série de restrições. Ela não podia ser dona de propriedades, se não tivesse filhos era uma prova de que Deus a amaldiçoou, mesmo se ela fosse estérea. Ela tinha um valor econômico equivalente a metade do valor de um homem, ela tinha que provar sua virgindade, caso o contrário seu marido poderia apedrejá-la. Nessa sociedade os pais gostavam de terem filhos homens, e agradeciam a Deus por isso, existe até uma oração famosa que os judeus faziam que diz: “Obrigado senhor por não ter nascido mulher”. Tudo isso eram regras impostas as mulheres e que não tinham respaldo bíblico algum, mas que mesmo assim eram praticadas pelos Judeus/Hebreus.
Há outros casos no novo testamento em que a figura da mulher é menosprezada, como quando Paulo escreve em 1ºCor 14;33;36 que as mulheres deviam ficar caladas na igreja, e que se quisessem saber de algo, que perguntassem aos seus maridos em casa, e outro em que ele escreve em 1ºTM 2:11;12 que era algo vergonhoso as mulheres ensinarem aos homens, e que elas não poderiam ocupar cargo de autoridade.
De fato, a primeira vista, nos parece que Paulo era machista (anacronismo), patriarcalista, opressor  e tantos outros títulos que foram imposto a ele pela sociedade moderna, ou pós moderna. Mas a bíblia deve ser interpretada no contexto, é preciso saber o porque de Paulo ter dito isso. No caso da igreja de Coríntios, Paulo disse que as mulheres deveriam ficar caladas e tirarem suas dúvidas com os marido em casa porque naquela igreja em específico, as mulheres estavam fofocando e conversando muito na hora do culto, e acabavam atrapalhando o andamento do mesmo, atrapalhavam a pregação, atrapalhavam os louvores e a comunhão. Acreditamos que isso se deve ao fato de as mulheres não poderem sair de casa na época, então elas aproveitavam o tempo de culto para reverem suas amigas e colocarem o papo em dia. Paulo havia recebido uma reclamação das conversas descontroladas, e por isso escreveu aconselhando aquelas mulheres a ficarem caladas, esse era um conselho para a igreja de Corinto, e só, e não uma regra universal pra Igreja.
No caso de 1ºTM  2;11;12, com certeza houve influência da cultura, visto que na época somente homens é quem ensinavam e ocupavam cargos de autoridade, e isso era um costume da antiguidade clássica inteira e não dos Judeus ou cristão, como eu disse, a bíblia foi escrita sob influência cultural. Não quer dizer que seja uma regra para a Igreja universal de Cristo, pelo contrário o papel da mulher na época era outro, hoje os tempos mudaram e não dá mais para fazer esse tipo de leitura, nossa hermenêutica tem que ser coerente e entender que a bíblia não pode ser interpretada literalmente, e que muito do que se escreveu sobre a mulher foi um aconselhamento, repito, “aconselhamento” para a época e não um dogma universal para a igreja, como a salvação por Cristo por exemplo.
Houveram casos sim em que mulheres foram cabeças (líderes) de multidões, como é o caso de Ester que foi rainha da pérsia, um grande império antigo, onde ela comandou um exército e impediu o genocídio dos Judeus, não havia homem nenhum acima dela. Caso também de Hulda que foi uma profetisa  de Israel, a qual o rei Josias consultou. Lembrando que os profetas eram os escolhidos de Deus para serem a autoridade máxima sobre um povo e que o representava na terra. Há outro caso também de Miriam que era comandante do exército de Israel, mas que nesse caso, estava hierarquicamente subjugada a Moisés e Arão, mas das três foi a única que não assumiu autoridade máxima.
Quer dizer, para Deus essa preferência pelo homem em relação a mulher não existe, e essa ideia de que a mulher não pode governar e ser líder acima de Todos não procede, uma vez que essas mulheres citadas acima, receberam de Deus a autoridade que lhes foi dada. A mulher não foi um produto secundário de Deus, em gênesis 1;26;27, Está escrito que o homem e a mulher juntos constituem a imagem de Deus. E depois de Deus ter feito tudo ele olhou e viu que tudo era bom, e eu todas as coisas juntas era muito bom. Quando Deus nesse versículo ordena que o homem domine sobre a terra e os peixes do mar, ele está se referindo a humanidade num contexto geral, e não somente ao sexo masculino, tanto que no verso posterior está escrito que ele criou o homem e a “MULHER”. Moisés usa o termo Homem se referindo a humanidade justamente porque esse era um termo patriarcal para se referir humanidade construído pela sociedade antiga desde de antes de Moisés existir, ele só o reproduziu culturalmente. Talvez  Deus tenha usado mais homens como  líderes na época bíblica para que as pessoas da época aceitassem as autoridades impostas por ele, pois se caso contasse mais com as mulheres (ainda que haja casos isolados que ele contou, para mostrar que ele não faz acepção de gêneros), com certeza muitos nem dariam ouvidos a voz de Deus por meio delas, porque, como já disse, era uma sociedade patriarcal, e isso não vem da bíblia e sim da cultura de seu tempo. Se já não davam ouvidos aos homens, quanto mais as mulheres. Acreditamos ter sido uma estratégia de Deus para conduzir seu povo, porque Deus além de racional é educado e respeita as culturas, mesmo vendo todas elas do andar de cima.


A VISÃO QUE JESUS CRISTO TINHA DAS MULHERES

Há quatro mulheres com papéis mais que participativos da vida de Jesus, Maria sua mãe, a qual exerceu liderança sobre ele e que foi a mais íntima dele. Maria Madalena que foi uma endemoniada em uma ocasião e tida por alguns como prostituta, mas que Jesus a aceitou como ínfima seguidora de seu ministério, e mais ainda, ela esteve com ele no calvário, ela viu o túmulo de Cristo e teve a honra de ser a primeira a ver Jesus ressuscitado. Teve também Maria Betânia, irmã de Lázaro, que esteve aos pés de Jesus para ouvir seus ensinamentos, e que teve a honra de derramar sobre a cabeça de Jesus um perfume caríssimo chamado Nardo, que causou muita raiva em Judas pois o perfume equivalia a um ano todo de salário, mas Jesus repreendeu a Judas e mandou que deixasse ele o derramar pois era um ato de demonstração de que aquela mulher estava dando tudo o que tinha. E por último Marta, a qual Jesus visitou sua casa quando estava sozinha e teve um longo diálogo com ela. Naquela época, um homem não podia conversar com uma mulher (pois a mulher só poderia conversar com seu marido e só dentro de casa), não podia tocar em uma mulher, e muito menos ir a casa de uma mulher, ainda mais se ela fosse solteira. Se hoje nós ainda maldamos tal atitude, o que dirá na época.  Mais Jesus mesmo assim quebrou os paradigmas preconceituosos e foi até a casa de Marta dialogar com ela. Assim como fez com Maria Madalena, que há possibilidades de que seja a mulher adúltera.
Jesus quebrou muitos paradigmas e preconceitos contra as mulheres, Jesus em uma ocasião, foi conversar a sós com uma um mulher samaritana em público. Primeiro que, como já escrevi, um homem não poderia conversar com uma mulher, muito menos se fosse samaritana, que era uma raça odiada pelos Judeus (raça a qual Jesus pertencia) e pior que isso, Cristo conversou com ela em público, a ponto de até seus discípulos ficarem assustados. Ou seja, é muita ousadia vinda de um homem daquela época.
Jesus, aceitou mulheres em seu círculo de discípulos ( que sabemos não ser somente os doze) o que era mais que um desafio para a época, pois todo mestre tinha um grupo de discípulos e neles só podiam entrar homens. Ele revolucionou a lei do divórcio, pois os homens bíblicos se divorciavam por qualquer coisa e muitos dele traíam a mulher mas não aceitavam que esta se divorciassem deles. Mas Jesus quebra o preconceito quando no episódio em que trouxeram a mulher adúltera até ele (supostamente Maria Madalena) para apedrejá-la, ele pergunta “quem não tem pecado que atire a primeira pedra”, ou seja ele põe a mulher e pé de igualdade com os homens que a julgavam pois para Cristo havia algo de muito errado naquela situação, se ela foi pega em adultério, porque não trouxeram o homem também? Por que só trouxeram a mulher? O castigo não deveria ser para os dois. Jesus mostra que a justiça deve prevalecer sempre.
Como Diz  Wilham Colemman: “ Deve-se mencionar que nos momentos crucias da vida de Cristo as mulheres estiveram presentes, como em seu nascimento, sua prisão, sua crucificação e sua ressurreição, e foram corajosas o suficiente para manter-se lá,  mas em compensação também foram as primeira a gozar da alegria da ressurreição”. Ao contrário dos discípulos, que nesses momentos não foram tão participativos assim, como quando Pedro nega a Cristo no momento dele ser preso, e como quando Judas o trai, entregando-o aos acusadores, sem contar que Maria foi protagonista no nascimento do Messias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Então queridos irmão, antes de afirmarmos que a mulher não pode assumir lugares de destaque e liderança devendo ser sempre submissa e acatar o que o seu marido fala e ponto, devemos levar em consideração tudo o que foi escrito acima. E saber também que Paulo escreve que “o homem deve amar sua mulher assim como Cristo amou a igreja, a ponto de dar a vida por ela” (EF 5;25). Por outro lado, antes de afirmarem que a bíblia é um livro machista, opressor e etc, é preciso também levar em consideração tudo o que foi tratado acima, é claro que a igreja no decorrer da história fez várias interpretações equivocadas a respeito da mulher, menosprezando sua função e pessoa, contudo esse é um mal de algumas igrejas no decorrer da história e não da bíblia em sí, é uma interpretação distorcida pela igreja para defender seu conceitos culturais e nãos um dogma da própria Bíblia. Se levarmos em conta tudo que foi tratado aqui, conseguiremos responder melhor as perguntas e anseios de nosso tempo.

Por: Lamartine Junior.


Referências bibliográficas:

Colemann, Wilham L. Manual dos tempos e costumes bíblicos. Editora Betânia. Minas Gerais, 1991.

Pearcey, Nancey. A verdade absoluta, Libertando o cristianismo do seu cativeiro cultural. Rio de Janeiro. CPAD, 2011.

Bíblia de Jerusalém 1º edição. São Paulo. Editora Paulus, 2002.

Bíblia João ferreira de Almeida.

Bíblia Almeida século 21. São paulo. Vida Nova, 2005.

Pearlearman, Meyer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo. Editora Vida academia, 2009.

Florenzano, Maria Beatriz. Mundo antigo, economia e sociedade. São Paulo, Brasiliense.

Um comentário :

  1. Só não entendo pq diz que a mulher prostituta era supostamente Maria madalena. Em todas as referências em que fala Maria Madalena nenhuma delas diz que ela era prostituta

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